A evolução
Histórica da Psicologia
Por João Neto
A
história da construção da Psicologia está ligada, em cada momento histórico, às
exigências de conhecimento da humanidade, às demais áreas do conhecimento
humano e aos novos desafios colocados pela realidade econômica e social e pela
insaciável necessidade do homem de compreender a si mesmo.
A
Psicologia entre os gregos
A
história do pensamento humano tem um momento áureo na Antiguidade, entre os
gregos, particularmente no período de 700 a.C. até a dominação romana, às
vésperas da era cristã.
É entre
os filósofos gregos que surge a primeira tentativa de sistematizar uma
Psicologia. O próprio termo psicologia vem do grego psyché (alma), e de logos
(razão), portanto psicologia significa "estudo da alma".
Os
filósofos pré-socráticos preocupavam-se em definir a relação do homem com o
mundo através da percepção. Havia uma oposição entre os idealistas (a ideia
forma o mundo) e os materialistas (a matéria que forma o mundo já é dada para
percepção).
Sócrates
postulava que a principal característica humana era a razão. Ao definir razão
peculiaridade do homem ou como essência, ele abriu um caminho que seria muito
explorado pela Psicologia.
Platão
procurou definir um "lugar" para razão em nosso próprio corpo. Definiu
esse lugar como sendo a cabeça, onde se encontra a alma do homem. Quando alguém
morria, a matéria (o corpo) desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar
outro corpo.
Aristóteles
foi inovador ou postulas que a alma e o corpo não poderiam ser dissociados.
Para ele, a psyché seria o princípio ativo da vida. Tudo aquilo que cresce, se
reproduz e se alimenta possui sua própria alma. Dessa forma os vegetais, os
animais e os homens teriam alma. Os primeiros teriam uma alma vegetativa, os
segundos também e ainda a alma sensitiva. Os homens teriam os dois níveis
anteriores e ainda a alma racional.
Sua obra “Da
anima”, pode ser considerada o primeiro tratado em Psicologia.
A
Psicologia no Império Romano e na Idade Média
Uma das
principais características desse período é o aparecimento e desenvolvimento do
cristianismo, uma força religiosa que passa a força política dominante. Falar
de Psicologia nesse período é relacioná-la ao conhecimento religioso, já que ao
lado do poder econômico e político, a Igreja Católica também monopoliza do
saber e, consequentemente, o estudo do psiquismo.
Nesse
sentido dois grandes filósofos representam esse período:
Santo
Agostinho, inspirado em Platão, também fazia uma cisão entre a alma e o corpo,
entretanto a alma não era somente a sede da razão, mas a prova de uma
manifestação divina no homem.
São Tomás
de Aquino foi buscar em Aristóteles a distinção entre essência e existência.
Como o filósofo grego, considera que o homem, na sua essência, busca a
perfeição através de sua existência. Afirma ainda, que somente Deus seria capaz
de reunir a essência e a existência, em termos de igualdade. Portanto, a busca
de perfeição pelo homem seria a busca de Deus.
A
Psicologia no Renascimento
Neste
período Descartes postulou a separação entre mente (alma, espírito) e corpo,
afirmando que o homem possui uma substância material e uma substância pensante,
e que o corpo, desprovido do espírito, é apenas uma máquina. Esse dualismo
mente-corpo torna possível o estudo do corpo humano morto, o que era impensável
nos séculos anteriores, e dessa forma, possibilita o avanço da Anatomia e da
Fisiologia, que iria contribuir em muito para o progresso da própria
Psicologia.
A Origem
da Psicologia Científica
É em
meados do século 19 que os problemas e temas da Psicologia, até então estudados
exclusivamente por filósofos, passam a ser também, investigados pela Fisiologia
e pela Neurofisiologia em particular. Os avanços que atingiram também essa área
levaram a formulação de teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando
que o pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram produtos desse
sistema.
Para se
conhecer o psiquismo humano passa a ser necessário compreender os mecanismos e
o funcionamento da máquina de pensar do homem seu cérebro. Assim a Psicologia
começa a trilhar os caminhos da Fisiologia, Neurofisiologia e Neuroanatomia.
A
Psicologia Científica
O status
de ciência é obtido a medida que a Psicologia se liberta da Filosofia, e atrai
novos estudiosos e pesquisadores, que, sob os novos padrões de produção de
conhecimento, passam a:
·
definir seu objetivo de estudo (o comportamento, a
vida psíquica, a consciência);
·
delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de
outras áreas de conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia;
·
formular métodos de estudo desse objeto;
·
formular teorias enquanto um corpo consistente de
conhecimentos na área.
Embora a
Psicologia científica tenha nascido na Alemanha, é nos Estados Unidos que ela
encontra campo para um rápido crescimento, resultado do grande avanço econômico
que o colocou na vanguarda do sistema capitalista. É ali que surgem as
primeiras abordagens ou escolas da Psicologia, as quais deram origem às
inúmeras teorias que existem atualmente.
O
Funcionalismo
O
Funcionalismo é considerado como a primeira sistematização genuinamente
americana de conhecimentos em Psicologia. Uma sociedade que exigia o
pragmatismo para o seu desenvolvimento econômico acaba por exigir dos
cientistas americanos o mesmo espírito. Desse modo, para a escola Funcionalista
de W. James importa responder "o que fazem os homens" e "por que
o fazem". Para responder a isso W. James elege a consciência como o centro
e suas preocupações e busca a compreensão de seu funcionamento, na medida em
que o homem a usa para adaptar-se ao meio.
O
Estruturalismo
O
estruturalismo está preocupado com a compreensão do mesmo fenômeno que o
Funcionalismo: a consciência. Mas, diferentemente de W. James, Titchner irá
estudá-la em seus aspectos estruturais, isto é, os estados elementares da
consciência como estruturas do sistema nervoso central. Esta escola foi
inaugurada por Wundt, mas foi Titchner, seu seguidor, quem primeiro utilizou a
denominação de estruturalismo.
O
Associacionismo
Edward L.
Thorndike é o principal representante do Associacionismo, e sua importância
está em ter sido o formulador de uma primeira teoria de aprendizagem na
Psicologia. O termo associacionismo origina-se da concepção de que a
aprendizagem se dá por um processo de associação das idéias das mais simples as
mais complexas. Assim, para aprender um conteúdo complexo, a pessoa precisaria
primeiro aprender as idéias mais simples, que estariam associadas àquele
conteúdo.
As
Principais Teorias da Psicologia no Século XX
As três
mais importantes tendências teóricas da Psicologia no século passado são
consideradas por inúmeros autores como sendo o Behaviorismo, a Gestalt e a
Psicanálise.
O
Behaviorismo, que nasce com Watson e tem um grande desenvolvimento nos Estados
Unidos, em função das suas aplicações práticas, tornou-se importante por ter
definido o fato psicológico de modo concreto, a partir da noção de
comportamento.
A
Gestalt, que tem seu berço na Europa, surge como uma negação da fragmentação
das ações e processos humanos, realizada pelas tendências da Psicologia
científica do século 19, postulando a necessidade de se compreender o homem
como uma totalidade. A Gestalt é a tendência teórica mais ligada à filosofia.
A
Psicanálise, que nasce com Freud na Áustria, a partir da prática médica,
recupera para psicologia a importância da afetividade e postula o inconsciente
como objeto de estudo, quebrando a tradição da Psicologia como ciência da
consciência e da razão.
Principais
Marcos da História da Psicologia:
400 a.C. - Hipócrates relaciona características da
personalidade com tipos físicos e propõe uma teoria fisiológica para as doenças
mentais.
350 a.C. - Aristóteles salienta a observação
objetiva do comportamento humano e propõe três princípios para explicar a associação
de ideias.
1650 - Descartes caracteriza a relação corpo -
mente como interativa.
1651 - Hobbes antecipa o associacionismo ao
declarar que as idéias provêm da experiência sensorial.
1690 - Locke declara que ao nascer a mente é uma
"tábua rasa".
1781 - Kant ataca o associacionismo e a perspectiva
inatista. Vai influenciar profundamente filósofos e psicólogos.
1809 - Gall, através da frenologia, chama a atenção
para as faculdades mentais e para as funções cerebrais.
1811-21 - Bell e Magendia: distinção entre nervos
sensoriais e nervos motores.
1838 - Johanes Muller: demonstração da energia
específica dos nervos.
1850 - Helmholtz mede os níveis de condução dos
impulsos nervosos.
1853 - Claude Bernard estabelece a existência de
glândulas endócrinas, apresentando a função glicogénica do fígado.
1859 - Darwin publica A Origem das Espécies,
propondo a teoria da evolução através da selecção natural.
1860 - Fechner apresenta vários métodos para medir
a relação entre os estímulos físicos e as sensações. "Elementos de
Psicofísica" .
1861 - Broca descobre um centro da linguagem no
hemisfério esquerdo do córtex.
1869 - Galton estuda as diferenças individuais e
aplica o conceito de adaptação selectiva de Darwin à evolução das raças.
1879 - Wundt funda o primeiro Laboratório de
Psicologia em Leipzig.
1882 - Stanley Hall funda o primeiro Laboratório de
Psicologia nos EUA.
1885 - Ebbinghaus publica os primeiros estudos
experimentais sobre a memória.
1890 - William James publica nos EUA o livro
Princípios da Psicologia.
1898 - Thorndike desenvolve alguns dos primeiros
estudos experimentais sobre a aprendizagem animal.
1900 - Freud publicou "A Interpretação dos
Sonhos", onde apresenta muitas das suas interpretações sobre a
psicanálise.
1905 - Binet e Simon desenvolvem o primeiro teste
de inteligência.
1906 - Pavlov publica os resultados dos seus
estudos sobre o condicionamento clássico.
1911 - Thorndike publica "Animal Intelligence".
1912 - Wertheimer publica a primeira formulação do
gestaltismo.
1913 - Watson apresenta o manifesto behaviorista.
1917 - Köhler publica os resultados dos seus
estudos sobre a resolução de problemas com primatas.
1929 - Berger evidencia a actividade eléctrica do
cérebro com o registo dos primeiros electroencefalogramas.
1938 - Skinner publica o resumo dos resultados das
investigações sobre o condicionamento operante.
1942 - Carl Rogers apresenta os fundamentos da
concepção humanista de terapia.
1949 - Teoria da Informação de Shannon e Weaver.
1954 - Piaget publica A Construção do Real na
Criança, que se centra no desenvolvimento cognitivo.