quarta-feira, 13 de junho de 2012

GESTALT


GESTALT

Por Andrija Almeida

Influências teóricas e precursores da Psicologia da Gestalt

As bases conceituais do enfoque da unidade da percepção na Psicologia da Gestalt fundamentam-se nas ideias do filósofo alemão Immanuel Kant. Para este autor, “quando percebemos o que chamamos de objeto, encontramos os estados mentais que parecem compostos de partes e pedaços” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005, p. 319). Entretanto, na perspectiva de Kant, a percepção consiste em uma organização ativa dos elementos e se constitui uma experiência coerente.

Além de Kant, a fenomenologia também exerceu influência teórica sobre a Gestalt.  Contudo, em função das pesquisas desenvolvidas no campo da psicofísica, mormente com estudos sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico), o físico Ernst Mach (1838-1916) e o filósofo e psicólogo Christian von Ehrenfels (1859-1932) são considerados antecessores diretos da Psicologia da Gestalt (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2001).

Com base nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção, Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941) estabeleceram os fundamentos de uma teoria eminentemente psicológica acerca da percepção e da sensação do movimento, sendo considerados os fundadores da Psicologia da Gestalt (BOCK;FURTADO;TEIXEIRA, 2001).



Conceitos fundamentais

  • Percepção

A percepção consiste em um dos temas centrais da teoria gestaltista e uma das bases de refutação aos princípios do Behaviorismo, sobretudo no que se referes à relação de causa e efeito entre o estímulo e a resposta.

Em contraposição à abordagem behaviorista, para a Gestalt não há relação de causa e efeito entre o estímulo e a resposta, posto que entre o estímulo fornecido pelo meio e a resposta do indivíduo, situa-se o  processo de  percepção. Desse modo, baseando-se na teoria do isomorfismo, a Gestalt argumenta que o comportamento precisa ser estudado nos seus aspectos mais globais, considerando as condições que modificam a percepção do estímulo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).

Na perspectiva da psicologia da Gestalt, o cérebro é um sistema dinâmico no qual os elementos ativos interagem em determinada circunstância por meio de processos que ultrapassam a associação mecânica (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005). Desse modo, Wertheimer apresenta os princípios de organização perceptual da Psicologia da Gestalt que, segundo o autor, estão presentes nos próprios estímulos:

a)    Proximidade: os elementos mais próximos no tempo e no espaço tendem a ser agrupados e percebidos juntos;

b)    Continuidade: há uma tendência de a percepção humana conectar os elementos de modo que eles pareçam ser contínuos e fluir em uma direção determinada;

c)    Semehança: as partes semelhantes tendem a ser vistas e agrupadas juntas, formando um grupo;

d)    Preenchimento: há uma tendência de nossa percepção em completar as figuras e de preencher as lacunas a fim de garantir a sua compreensão;

e)    Simplicidade: existe uma tendência de percebermos a figura como tendo boa qualidade sob as condições do estímulo. Essa característica é denominada pela Gestalt de boa forma (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005);

f)     Figura/fundo: há uma tendência de organizar as percepções do objeto visto (figura) e do fundo (base) sobre o qual ele aparece (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005).



  • Meio geográfico e meio comportamental

Para os gestaltistas, o comportamento está relacionado à percepção do estímulo e, neste sentido, submete-se à lei da boa-forma. Na Psicologia da Gestalt, o conjunto de estímulos determinantes do comportamento é chamado meio ou meio ambiental, que pode ser classificado em dois tipos (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001):

a)    meio geográfico: consiste no meio enquanto tal,ou seja,  o meio físico em termos objetivos;

b)    meio comportamental:  decorre da interação do indivíduo com o meio físico e implica a interpretação desse meio através das forças que regem a percepção (equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade).





  • Campo psicológico

O campo psicológico é compreendido como um campo de força que auxilia na busca da boa-forma. Desse modo, caracteriza-se por “uma tendência que garante a busca da melhor forma possível em situações que não estão muito estruturadas” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001, p.63).



  • Insight

A Psicologia da Gestalt compreende a aprendizagem como a relação entre todo-parte, que envolve a reorganização do ambiente psicológico do indivíduo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001; SCHULTZ; SCHULTZ, 2005). Dentro desta perspectiva que considera os aspectos globais do comportamento, Köhler realizou estudos que destacaram evidências acerca do que denominou insight (compreensão ou percepção imediata da relação figura-fundo).



A teoria de campo de Kurt Lewin

Lewin redefine algumas das posições da Gestalt, passando a considerar as necessidades humanas, a personalidade e as influências sociais na análise do comportamento (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005). Desse modo, um dos conceitos fundamentais de Lewin é o do espaço vital, definido pelo autor como “a totalidade dos fatos que determinam o comportamento do indivíduo num certo momento” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001, p.65).

Outra categoria relevante para Lewin é a de “campo psicológico”, que é compreendido como o espaço de vida em sua dinamicidade, onde a totalidade de fatos coexistentes e mutuamente interdependentes é considerada na explicação do comportamento de um indivíduo.

Lewin ainda trabalha com a noção de “realidade fenomênica” que se refere à maneira particular como o indivíduo interpreta uma determinada situação. De acordo com Bock; Furtado; Teixeira (2001), o conceito abrange aspectos relacionados à percepção (enquanto fenômeno psicofisiológico), às características de personalidade do indivíduo, aos componentes emocionais ligados ao grupo e à situação vivida, bem como inclui situações passadas e que se vinculam ao acontecimento por meio das representações atuais no espaço de vida dos indivíduos. Além da análise do comportamento individual, Lewin criou o conceito de campo social para a compreensão do comportamento coletivo e, assim, impulsionou o desenvolvimento da psicologia social.



Contribuições da Psicologia da Gestalt

Entre as principais contribuições dos gestaltistas à Psicologia, destacam-se as influências tocantes às abordagens da percepção, da aprendizagem, do pensamento, da personalidade, da psicologia social e da motivação (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005).  Além disso, há desdobramentos da Psicologia da Gestalt na arte, na publicidade e no design.



Críticas à Psicologia da Gestalt

Entre as críticas à Psicologia da Gestalt, destacam-se as dos psicólogos experimentais direcionadas à “baixa cientificidade” dos conceitos básicos utilizados pelos gestaltistas. Por outro lado, outros psicólogos salientam a ênfase da Gestalt na teorização em detrimento das pesquisas empíricas. (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005). 

Contudo, Schultz e Schultz (2005) assinalam que tais críticas estão relacionadas a uma perspectiva de ciência experimental fundada em produção de dados quantificáveis e passíveis de análises estatísticas. Segundo os autores, a maioria das pesquisas da Gestalt tem caráter exploratório e investigou processos psicológicos a partir de uma abordagem fenomenológica.



Filmes indicados 


O presidente dos Estados Unidos, Ashton (William Hurt), participará de uma conferência mundial sobre o combate ao terrorismo em Salamanca, na Espanha. Thomas Barnes (Dennis Quaid) e Kent Taylor (Matthew Fox) são os agentes do Serviço Secreto designados para protegê-lo durante o evento. Entretanto logo em sua chegada o presidente é baleado, o que gera um grande tumulto. Na multidão que assiste ao atentado está Howard Lewis (Forest Whitaker), um turista americano que estava gravando tudo para mostrar aos filhos quando retornasse para casa. A partir da perspectiva de diversos presentes no local antes e depois do atentado é que se pode chegar à verdade sobre o ocorrido. (Disponível em: <http://www.interfilmes.com/filme_17194_ponto.de.vista.html>. Acesso em: 24 de abril 2012)


Quatro testemunhas descrevem um estupro e assassinato, entre eles o próprio criminoso (Toshiro Mifune) e, através de um médium (Fumiko Honma), também a vítima. A história se desvela em flashbacks conforme os quatro personagens — o próprio bandido, o samurai assassinado Kanazawa-no-Takehiro (Masayuki Mori), sua esposa Masago (Machiko Kyō) e o lenhador sem nome (Takashi Shimura) — recontam os eventos de uma tarde em um bosque. 




Foca no curso dos romances de dois casais, assim como as vidas amorosas de seus amigos e associados. Centra ao redor das vidas de um grupo de jovens, a maioria com seus 20 anos, vivendo em um bloco de apartamentos, e é dividido em capítulos. Os eventos do filme foram situados tendo como cortina de fundo Seattle e o movimento grunge na cidade durante o começo dos anos 90.



Texto complementar

Chaves da vaguidão - Fernando Sabino

Era um bar da moda naquele tempo em Copacabana e eu tomava meu uísque em companhia de uma amiga. O garçom que nos servia, meu velho conhecido, a horas tantas se aproximou:

– Não leve a mal eu sair agora, que está na minha hora, mas o meu colega ali continuará atendendo o senhor.

Ele se afastou, e eu voltei ao meu estado de vaguidão habitual.

Alguns minutos mais tarde, vejo diante de mim alguém que me cumprimentava cerimoniosamente, com um movimento de cabeça:

– Boa noite, Dr. Sabino.

Era um senhor careca, de óculos, num terno preto de corte meio antigo. Sua fisionomia me era familiar, e embora não o identificasse assim à primeira vista, vi logo que devia se tratar de algum advogado ou mesmo desembargador de minhas relações, do meu tempo de escrivão. Naturalmente disfarcei como pude o fato de não estar me lembrando de seu nome, e me ergui, estendendo-lhe a mão:

– Boa noite, como vai o senhor? Há quanto tempo! Não quer sentar-se um pouco?

Ele vacilou um instante, mas impelido pelo calor de minha acolhida, acabou aceitando: sentou-se meio constrangido na ponta da cadeira e ali ficou, erecto, como se fosse erguer-se de um momento para outro. Ao observá-lo assim de perto, de repente deixei cair o queixo: sai dessa agora, Dr. Sabino! Minha amiga ali do lado, também boquiaberta, devia estar achando que eu ficara maluco.

Pois o meu desembargador não era outro senão o próprio garçom – e meu velho conhecido! – que nos servira durante toda a noite e que havia apenas trocado de roupa para sair. (…)



REFERÊNCIAS

BOCK, Ana Mercês Maria; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2001.



SCHULTZ, Duane P.: SCHULTZ, Sydney Ellen. Psicologia da Gestalt. In: _____. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Pioneira Thomson Lerning, 2005. p. 316-344.

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